quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

TRADIÇÕES, CRENÇAS E FEITIÇARIA

Estava a um tempo sem escrever para o blog, e aqui na África já vi muitos casos interessantes sobre as relação das crenças e tradições medicinais desse povo e pior ainda sobre feitiçaria (ou como é conhecida por nós brasileiros – macumba) Vou contar uns casos.
O CASO DAS PEDRAS
Um caso horroroso era de um jovem com seus 20 anos, com Perda Auditiva Mista Moderadamente Severo na Orelha Esquerda e Moderada na Orelha Direita. A história que ele me contou foi que, seu avô, que era um dono de barcos pesqueiros em uma das praias paradisíacas de Moçambique, quando ele tinha seus 3 anos o levou ao feiticeiro pra fazer um trabalho para que ele ficasse mais rico ainda e isso custaria a vida do seu neto. Então o feiticeiro colocou uma pedra dentro de cada orelha do pequeno. Passou-se uns dias o seu pai descobriu e o levou em um Curandeiro (que é a mesma coisa só que não faz coisas do mal) e o curandeiro tirou a pedra. A tragédia não parou por ai, o pai do rapaz brigou com o seu próprio pai e uma semana depois morreu de causas misteriosas. Não completada a sua tragédia mais 6 meses pra frente, também morreu a sua mãe. Parentes de outro estado (província como chamam aqui) o levaram pra longe do horrível avô. O menino cresceu com muita dificuldade mas conseguiu um emprego e vai lutando pela vida, mesmo com seu problema de audição, causada por crenças absurdas.

 O CASO DA MARIA CAFÉ
Paciente M.C., 34 anos, veio fazer audiometria e antes mesmo de começarmos já foi me contando sua história. Quando pequena teve uma dor de ouvido forte que saia sujidade (sujeira, pûs). Então seus pais amorosos a levaram no curandeiro, que receitou o líquido interno de uma Maria Café partida no meio (Científico não??? – Ela enrolada até parece a cóclea kkkk). Então de um tempo pra cá ela vem perecebendo que não ouve bem.
Agora o que eu observei foi a Membrana Timpânica da Orelha Direita totalmente destruída, ocasionando uma Perda Auditiva Mista Leve.  Claro que não foi a Maria Café que lhe causou o dano  na MT, mas poderia sim ter causado um dano irreversível. Aqui o povo vai no médico, mas vão muito mais nos curandeiros (ou médico tradicional como eles gostam de chamar) e são inúmeros os casos de perdas auditivas, transmissão de doenças (pois usam uma mesma lâmina em várias pessoas) e por ai vai.
Esses são os casos mais interessantes e de impacto que vi aqui, porém é impressionante a quantidade de pessoas que tem perfuração timpânica por violência entre eles (trauma mesmo, batem com as mãos em forma de concha na orelha rompendo a MT); casos de otites crônicas então… nem se fala!! Aparecendo outros casos interessantes vou postando. bjins


segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

FONOAUDIOLOGIA NA ÁFRICA

Depois de 2 anos sem publicar nada neste blog, começaremos uma nova história, a história sobre a Fonoaudiologia na África.
Eu, meu esposo e meus filhos, estamos aqui em Tete, Moçambique, África, há 1 ano e 6 meses e vivemos aqui muitas histórias, aprendemos e ensinamos muito e começarei a escrever nesse blog, não somente nossas experiências, mas principalmente a experiência de ser Fonoaudióloga nessa terra, onde as pessoas catam comida do lixo, onde vão aos curandeiros charlatões pra tratar de suas doenças e saem de lá mais miseráveis e ainda mais doentes. Claro que não colocarei aqui somente miséria e sofrimento, pois o povo, apesar de tudo, é um povo sorridente e feliz, conformados com a vida que levam, porque não conhecem outra vida.Mas acho que nesse início é importante falar sobre isso, para que as pessoas sempre lembrem do sofrimento que há no mundo e não se conformem com este mundo e que com pequenas ações e gestos percebam que podem fazer a diferença, aqui na África, no Brasil e em qualquer lugar onde estiverem.
Nos próximos posts contarei sobre casos fonoaudiológicos, principalmente na área da audiologia que é a que estou trabalhando oficialmente aqui e creio que será de grande importância para nossa profissão, compartilhando experiências.
Abraços a todos, Feliz 2014 e até a próxima.

domingo, 11 de dezembro de 2011